Sobre a Magnífica - O que é o Coletivo Magnífica Mundi?
Somos uma WebTV e muito mais...
"Uma linguagem que une as diferenças, partindo do coração geográfico e cultural do continente, amarra as grandes metrópoles... do mundo às florestas ( e cerrados ) indigenas. O sincretismo , seja linguistico que cultural, busca a contaminação. Substitui a verdade pura e limpa dos iguais, pelas dúvidas sujas dos diversos...
quebrou o c erco novamente, demonstrando, mais uma vez, a incircunscritibilidade de sua luta e de suas reivindicações,originando, assim, uma nova forma de pressão política e de conflito absolutamente dificil de ser controlada,pelo fato de não se dar mais em um lugar geográfico específico, mas sim em um espaço comunicativo sem limites" (Di Felice, 2004).
O complexo de comunicação Magnífica Mundi foi criado em abril de 2000 na Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb) da Universidade Federal de Goiás (UFG), com tecnologia básica de funcionamento. Desde então, estudantes, professores e funcionários, utilizam da estrutura oferecida pela faculdade, para criar e gerir uma proposta diferente de rádio e tv. Trata-se da rádio comunitária, da rádio on-line e do canal de web televisão, Magnífica Mundi. O projeto de “complexo comunicacional” firmou-se definitivamente somente em 2004, na perspectiva da Comunicação Comunitária via internet, começando com 12 programas e muito entusiasmo, como conta o professor Nilton José, coordenador do projeto.
É necessário deixar claro que a Magnífica nunca esteve em posição de conforto e/ou privilégio em seus oito anos de existência na Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFG. Sua constante discussão existencial, que permeia todo embasamento teórico originário do seu passado um tanto quanto atrevido e ousado, acaba gerando inicialmente, muitas dúvidas aos novos membros. Dúvidas essas que, aos poucos, são sanadas através de oficinas, transmissões, leituras e práticas de comunicação um tanto quanto não convencionais.
Para explicar melhor o processo de criação da Magnífica Mundi, apresentaremos aqui o texto dos professores Nilton José dos Reis Rocha e Angelita Pereira apresentado em maio de 2003 no 6º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, com dados readaptados:
Por Angelita Lima e Nilton José
A Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFG iniciou, no ano de 2000, uma experiência ousada chamada Magnífica Mundi, um complexo tecnológico de web jornalismo na TV e no rádio. Esse projeto se propõe a estabelecer uma interconexão da produção laboratorial. Com equipamentos baratos, o web jornalismo permite circular a informação em escala planetária. Articula, ao mesmo tempo, a produção e a distribuição e, ainda, possibilita articular a recepção. Mais do que qualquer outro meio, é uma chave para superar o “faz-de-conta” do jornalismo feito em laboratório e estimula o envolvimento dos alunos. É ao reconto dessa experiência e o compartilhamento das dúvidas e angústias e vitórias que esse texto se destina
1 – A experiência
A “Magnífica Mundi” funcionou pela primeira vez na Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFG na passagem de 12 para 13 de maio de 2000, em comemoração atrasada ao dia do jornalista. A pretensão, movida pela curiosidade e o desprendimento de alguns alunos e professores, era a de colocar on line uma versão da Magnífica FM 107,1, uma rádio comunitária e laboratório instalada dentro da faculdade, desde 1997. O nome magnífica surgiu em função da campanha para a reitoria, ocorrida naquele ano. Duas mulheres eram as candidatas. Qualquer que vencesse seria magnífica e assim a rádio, que surgiu durante a cobertura das eleições, adotou o nome. E junto com a rádio, uma TV na Internet.
Pois bem, a Magnífica entrou em rede pela primeira vez com uma programação de 24 horas produzida e executada pelos alunos e uma presença intensa dos movimentos sociais. A façanha foi resultado de uma formulação dos estudantes dispostos a utilizar esse potencial de comunicação disponível e até então não explorado. Entraram on line simultaneamente a TV e a rádio, esta última com uma novidade: ela também tinha uma webcam ligada para registrar e divulgar como a “rádio” estava sendo feita. Foi assim que surgiu a TV Magnífica e com ela a grande descoberta: era possível falar com o mundo, mostrar caras e bocas, diretamente do Campus Samambaia, sem muito investimento (na ocasião eram dois computadores e uma câmera) e sem ter de enfrentar toda a burocracia político-institucional para concessão da TV Educativa ou a destinação de verba para o concerto e ampliação dos equipamentos do estúdio, nossas mais antigas lutas.
A idéia do experimento nasceu de uma concepção laboratorial cunhada na faculdade de comunicação que objetiva articular todas as áreas de formação e seus produtos dentro de um complexo que é batizado de “Central de Produção” (idéia que ainda está em construção e, porque não dizer, em disputa). O velho debate dicotômico entre teoria e prática, bem como o uso do laboratório de jornalismo com uma dinâmica de faz-de-conta, que não produz o comprometimento dos estudantes, professores e funcionários são, de certa forma, postos em xeque com a articulação das produções por meio da central.
Mas, a Magnífica se concretizou antes mesmo da superação desse debate porque fazer laboratório em televisão sempre foi muito difícil. A falta de manutenção e o custo dos equipamentos; a insuficiente disponibilidade dos poucos funcionários; o descaso gerado em função da demora para se atender à demanda dos cursos; e a ausência de um canal para veiculação têm servido ao longo da história para justificar a ineficácia do laboratório de televisão. No entanto, as condições concretas para se criar as transmissões via web já existiam na UFG desde meados da década passada: a banda hiper-larga estava disponível e junto com ela a equipe da UFGNET (o servidor da universidade) com capacidade de fazer a adaptação de tecnologia necessária. O que faltava era articular essas possibilidades e incorporar na prática o que já vem sendo debatido exaustivamente: as novas tecnologias no ensino de comunicação. E para isso é sempre bom contar com a capacidade “visionária” de alunos, com certeza mais antenados que muitos de nós professores nessas questões tecnológicas.
(...)
No ano de 2000 foram feitas duas transmissões de 24 horas. Em 2001, três e em 2002, mais outras três, sendo que uma delas resultou na cobertura da reunião anual da SBPC, realizada em Goiânia. Foram sete dias de produção e transmissão intermitentes. A cobertura da SBPC foi uma belíssima experiência vivenciada não só pelos alunos da Facomb, como os de outras universidades que trabalharam e mostraram na prática a viabilidade da central de produções: cobertura por meio da produção diária do jornal laboratório (com redação, edição e fotografia); cobertura direta e ao vivo para a Rádio Universitária; programas de entrevistas e debates na Magnífica (web e FM).
Ao ver tudo isso funcionando como uma grande redação, professores-pesquisadores, políticos e a própria reitoria (incrédula sobre a eficácia dessa concepção pedagógica laboratorial) validaram a experiência. No entanto, o grande nó está na manutenção diária dessa dinâmica de fazer jornalismo. E esse nó tem de ser desatado pelos próprios professores de jornalismo. Não é desejo de que o laboratório Magnífica se torne um projeto com vida própria e desgarrado do conjunto de disciplinas que formam os jornalistas. E mais do que isso, a Magnífica, para ter vida, não pode prescindir de outro laboratório fundamental para o jornalismo: o laboratório social. Ou seja, o complexo Magnífica, quando está em funcionamento, junta tudo ao mesmo tempo: formação dos alunos, dos próprios professores, questiona as linguagens e oferece um lugar para que os movimentos sociais tenham passagem. E se não for lá, será em outro sítio.
2 – A formação dos jornalistas frente às novas tecnologias
Três grandes lições foram reveladas pelo complexo “Magnífica Mundi” para a comunidade universitária da Facomb. A primeira delas é a desmistificação do uso da tecnologia como algo externo e inatingível e para poucos. Está em Pierre Lévy o questionamento das “novas tecnologias” como algo externo à sociedade, algo gerado à revelia das condições históricas e sociais. Como um cometa ou uma invasão de ETs, produzido em outra dimensão, que viesse nos atormentar e a invadir e impactar nossa cultura, nosso modo de vida. Ao nosso ver, essa concepção questionada por Lévy de, alguma forma, contribui para retardar a apropriação tecnológica na perspectiva da difusão da informação como um bem e um direito social. As possibilidades tecnológicas postas hoje pela mudança da velocidade da transmissão de dados é também um processo tecnológico desenvolvido em determinado tempo histórico e, também, pelos usos que se fazem dessa tecnologia. E isso é reconhecer, de acordo com Lévy, as tecnologias como produto de uma sociedade de uma cultura e que as relações se dão entre humanos:
As verdadeiras relações, portanto, não são criadas entre ‘a’ tecnologia (que seria da ordem da causa) e ‘a’ cultura (que sofreria os efeitos), mas sim entre um grande número de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas as técnicas. (p. 23)
A segunda lição é a possibilidade de, a custos relativamente baixos, fazer produção e distribuição da informação em grande escala. Não precisamos alugar um canal de satélite para fazer rede, a telefonia já integrou essas possibilidades e compramos o serviço completo. Cabe a nós definir o uso que se vai fazer dessa tecnologia disponível. E, logicamente, encontrar formas de torná-la mais disponível frente ao fosso social e econômico. Um desses usos, por exemplo, é articular a recepção em larga escala, por meio da interatividade. Esse, aliás, é, também, um conceito em construção e, principalmente, em disputa. Se vai prevalecer o modelo dos reality shows ou se vamos inventar e “popularizar” outro modelo de interatividade (mais próximo à participação e aos processos de comunicação) isso é tarefa da academia e de seus laboratórios. E não é pouco. (Um exemplo desenvolvido por um projeto experimental de alunos da Facomb é articulação dos movimentos sociais na América Latina, com troca de produções tais como vídeos, programas de rádio e outros via rede, chamado Vasto Mundo).
A postura que as faculdades de comunicação adotarem na formação dos jornalistas vai fazer toda a diferença. Pois a questão é menos de ordem técnica e mais a forma como nos relacionamos com ela. E se o problema não é a técnica, resta-nos debruçar sobre o que nos é mais caro: o tratamento da informação (desde a produção até à distribuição) como um direito social nessa teia que é, ao mesmo tempo, ampla e invisível. E disso decorre a terceira grande lição tirada da Magnífica Mundi que é a prática laboratorial dos cursos de comunicação.
Ao ser desmistificada, a tecnologia passa a ser algo disponível para quaisquer segmentos e pessoas. Qual será a função dos futuros jornalistas diante dessa realidade? Há quem pense que adotar essa perspectiva significa defender o fim do jornalismo, pois “qualquer um” poderá ser, na prática, um jornalista fazendo a produção e a difusão da informação. Ao nosso ver, ao contrário, o jornalista nesse contexto tem uma responsabilidade social muito maior e a formação para o lead e sublead é insuficiente para esse meio (se já não o é para o jornalismo tradicional).
Diante da inexorabilidade da Internet como meio de transmissão e com a supersaturação da informação, Barbeiro e Rodolfo de Lima, 2001, pensando sobre o futuro do rádio, apontam para a necessidade de uma formação de jornalista mais consistente e ampla. Os autores dizem que “o ouvinte-web é cada vez mais exigente” e, para se estabelecerem nesse meio, os jornalistas devem ser mais competentes para relacionar os fatos históricos e contextualizar a informação:
(...) Essa circunstância exige melhor preparação dos jornalistas, que deverão ser providos de conhecimento histórico, de métodos de análise sociológica, de espírito crítico e muito mais abertos ao contraditório do que os personagens dos noticiários. Os jornalistas do novo rádio terão que se adaptar ao conceito de que o conhecimento social se obtém participando do laboratório original que é a sociedade entendida como um conjunto histórico de feitos e atos humanos. Deverão entender as leis que movem as ciências sociais nas quais as sociedades está eternamente imersa e que esses novos fatos estão historicamente determinados. Liquida-se com o conceito de os fatos acontecerem por acaso ou sem explicações aparentes. O ouvinte-internauta vai questionar o porquê. A lógica vai imperar no novo jornalismo exigido na web (...) (p.38)
As armadilhas da rede são muitas, principalmente se utilizada no formato tradicional. Cada vez mais as notícias veiculadas nos diferentes meios surgem de um mesmo conjunto de agências internacionais. Esse é outro aspecto a ser considerado sobre o papel do jornalista que extrapola a transmissão. Articular a recepção (esse termo parece inadequado para o público internauta) pode vir a assumir uma importância singular na formação dos jornalistas. Mais do que receber a informação (de uma única fonte) será possível articular diferentes culturas, diferentes versões da existência humana e romper com a fonte única. A formação crítica virá desse movimento comunicacional.
Caberá a esse jornalista conhecer os sujeitos desse tipo de comunicação. Refletir sobre a relação entre público e emissor nesse meio e compreender as práticas sociais dos diferentes atores que navegam na Internet. Nesse contexto, caberá perguntar qual a importância da informação via web na vida das pessoas e qual será o tempo real da notícia. Levar em conta essas questões é fazer jornalismo sob um outro ângulo. Há uma travessia a ser feita. E para isso, não só as linguagens estão em xeque, mas o papel do jornalista e a própria fragmentação do conhecimento. Esse é o ganho que se espera atingir com o funcionamento do Complexo Magnífica: permitir aos estudantes e os professores a se experimentarem nessa relação com a comunicação. E com o paradigma da emissão modificado, há que aprender a conviver com as críticas, a aceitar os erros e limites, reorientar a reflexão e o tempo para a reflexão... num constante refazer (on line).
Ao nosso ver, a interconexão dos meios e a religação dos saberes (Morin, 2001) são dois fenômenos em combinação para um novo ensino do jornalismo. Nesse momento em que o curso de jornalismo na Facomb passa por uma reforma curricular, a existência do complexo Magnífica, dentro da concepção da central de produções, pode trazer as novas perguntas para o ensino do jornalismo. E é delas que mais precisamos.
O grande desafio enfrentado pela Facomb, nesse momento, é a manutenção contínua do fluxo da produção. E isso é reflexo de uma transição ainda em andamento. Como a concepção é vincular o ensino das disciplinas práticas à produção laboratorial o jornalismo na web é, para a Faculdade de Comunicação da UFG, algo em construção e depende, num certo sentido, da nova grade curricular. (...)
Nesse aspecto concordamos com Barbeiro que nos alerta que a mudança ocorrerá, como todo fato histórico, de maneira gradual: “O novo sistema está contido no velho sistema - nasce de suas entranhas e cresce até deixar o antigo completamente obsoleto e inadequado às novas necessidades” (p. 34). E sabemos, também, que apostar na Internet como um meio importante para a formação do jornalista não significa, de forma alguma, desprezar os demais meios eletrônicos e não-eletrônicos. Significa, sim, enxergar a existência de uma possibilidade de aprendizado em um novo campo profissional de articulação social e de pesquisa, algo que o estúdio tradicional de televisão, por suas próprias limitações, não permite.
A página oficial da magnífica é www.fic.ufg.br/magnifica e está em constante mudança e manutenção, assim como todo o espaço físico laboratorial da Facomb.
(...)
https://magnificamundi.fic.ufg.br/ ou https://www.facebook.com/magnifica.mundi/